/A razão das hidrelétricas

Data: 
14/02/2011
Autor: 
*Luiz Pinguelli Rosa

O setor elétrico brasileiro está sob duplo bombardeio na mídia. Tem ocorrido quedas de energia elétrica com frequência, acima do normal. Não há falta de capacidade instalada, como no racionamento de energia em 2001. Na época, faltaram investimentos para expansão do sistema, hoje o problema está na transmissão e na distribuição. Por outro lado, os ambientalistas criticam a construção de Belo Monte. No fundo, a questão não é Belo Monte, mas fazer ou não hidrelétricas de potência significativa, em particular na Região Norte, onde está a floresta Amazônica, foco de justas preocupações ambientais.

Está na Região Norte a maior parte do potencial hidrelétrico do Brasil, que possui os maiores recursos hídricos do planeta: 8,2 km3 / ano, seguido da Rússia com apenas 4,5 e do Canadá com 2,9. Apesar disso, ficamos em quarto lugar em capacidade instalada de hidrelétricas, atrás da China, EUA e Canadá. Usamos apenas cerca de 30% do potencial hidrelétrico nacional, percentual este que supera 70% na Noruega, seguida de perto pelo Japão, Canadá e EUA. Entretanto, a hidroeletricidade representa 85% da nossa geração elétrica, só superada pelo Paraguai e pela Noruega. Deve o País abrir mão de utilizar esta energia? Creio que não. Mas não pode fazê-lo a qualquer preço. Devem ser cumpridas as restrições ambientais.

O preço da energia de Belo Monte é 68 R$ / MWh, enquanto nas termelétricas novas é 140 R$ / MWh e há antigas que chegam a 400 R$/MWh quando operam em caso de escassez de água nas hidrelétricas. O investimento previsto é de 20 bilhões de reais, definidos no leilão, embora um documento do consórcio vencedor fale agora em 26 bilhões, pretendendo vender 20% da energia para consumidores livres a preço maior. Aí está um problema a ser resolvido pelo consórcio, pois deverá ser obrigado a manter o preço de 68 R$ / MWh para a rede pública.

A área inundada se restringe praticamente àquela que o rio já ocupa na sua variação sazonal. Ela é 516 km², bem menor que Itaipu com 1300 km². A usina de Balbina tem 0,1 W / m² e Tucurui 2,9 W/ m2, a de Belo Monte terá 21 W/m². Mas há um problema, que é a redução da água na Volta Grande do Xingu, o que preocupa moradores ribeirinhos. A solução é garantir uma vazão mínima.

Não haverá reservatório para acumulação como fazem as hidrelétricas antigas do sistema interligado. Para reduzir os impactos, perdeu-se a capacidade de regularizar a vazão, reduzindo a energia assegurada. A potência máxima de Belo Monte é 11 GW e a média é 4,6 GW. A relação desses dois valores dá o fator de capacidade de 42%, bem menor que os de Jirau e Santo Antonio. Entretanto, em geral, as hidrelétricas brasileiras têm fator de capacidade pouco acima de 50%. Esse fator é em média 21% nas hidrelétricas na Espanha, 32% na Suiça, 35% na França e no Japão, 36% na China, 46% nos EUA. A operação de Belo Monte não pode ser vista isoladamente, pois ela estará no sistema interligado, no qual há transmissão de energia de uma região a outras. Quando Belo Monte gerar com 11 GW ela vai economizar água em reservatórios de outras usinas que reduzirão sua geração. E essa água guardada permitirá gerar energia adicional nessas usinas.

É natural que os ambientalistas pressionem o governo. Apoiei a então ministra do governo Lula, Marina Silva, quanto às exigências impostas para as usinas do Rio Madeira. No final, chegou-se a uma solução para o licenciamento de Jirau e Santo Antonio pelo IBAMA. Há anos atrás obras como a de Tucurui produziram impactos muito grandes. O canteiro de obra causou uma concentração de pessoas abandonadas à própria sorte após a obra. Isso tem de ser evitado.

*Diretor da Coppe – UFRJ

Artigo publicado na seção opinião da Folha de S.Paulo, em 12/02/2011