/Eficiência e Racionalização Versus Racionamento

Data: 
30/01/2008
Autor: 
Luiz Pinguelli Rosa

A crise não é iminente, mas é preciso tomar medidas imediatas para que ela não ocorra. O nível médio dos reservatórios das hidrelétricas está acima do atingido em 2001 no Sudeste e Centro-Oeste. Na época, faltava usina térmica, hoje falta gás. Há cerca de um ano, a Petrobras informou que várias termelétricas não tinham contratos de compra de gás e a Aneel retirou-as do plano de operação, subtraindo mais de 3000 MW. Isso revelou um problema que voltou à tona com a questão do gás natural em novembro de 2007. Nessa ocasião, a COPPE/UFRJ enviou um relatório ao ministro de Minas e Energia, alertando para o agravamento da situação da geração elétrica que está ocorrendo agora.

A antecipação agora da operação das termelétricas visa poupar água para o futuro e sinaliza as incertezas no setor. Há atrasos nas obras, especialmente de hidrelétricas e do Proinfa, programa pelo qual a Eletrobrás em 2003 / 2004 viabilizou a construção de 3300 MW de usinas eólicas - menos de 50% saiu do papel - de pequenas usinas hidrelétricas e de biomassa. Há também o aumento do consumo devido ao crescimento econômico e a uma melhora na distribuição de renda, o que é positivo.

Por outro lado, os consumidores livres, grandes empresas, compraram energia barata da rede de forma desregulamentada, dificultando o planejamento. Estes representam mais de 25% do consumo de energia elétrica do país. É preciso estabelecer regras para dar transparência na comercialização de energia.

Não há como projetar, licenciar e construir novas usinas em menos de três anos. A usina de S. Antonio no rio Madeira só operará em 2012 e é positiva a participação de Furnas, mas deveria ser majoritária. Deve-se dar à Eletrobrás, como o maior grupo empresarial do setor, o papel de puxar os investimentos como fez a Petrobras para a auto-suficiência no petróleo. As empresas do Grupo Eletrobrás se tornaram alvos de partidos aliados barganhando seu apoio em troca de cargos.

A esses aspectos do mundo físico, somam-se questões conceituais do planejamento. Um claro sinal de que há problemas no horizonte é a elevação do custo do mercado spot, que subiu de R$ 18/MWh em 2004 para mais de R$ 500/MWh hoje. Furnas terá um prejuízo de cerca de R$ 200 milhões mensais para comprar energia cara no mercado e vendê-la, a preços muito menores, para cumprir contratos que deviam ser cancelados, derivados da importação de uma energia inexistente da Argentina, contratada antes de 2003.

Com a operação das termelétricas, inclusive a diesel, muito caro, a tarifa logo subirá para os consumidores cativos da rede, que já pagam muito pela energia elétrica, com exceção da tarifa social destinada à população de baixa renda. A tarifa no Brasil é maior do que em muitos países desenvolvidos como Alemanha, Dinamarca, EUA, França e Canadá. O gás natural liquefeito importado para aliviar a crise também será caro.

Além de acelerar as obras no setor elétrico e estimular as fontes alternativas de energia de rápida instalação a custos compatíveis, como o bagaço de cana, deve-se aplicar um plano nacional de eficiência energética. Trata-se de implantar um sistema planejado de estímulo à redução de perdas na geração, transmissão, distribuição e no consumo da energia elétrica, bem como à redução do desperdício.

Melhorar a eficiência na transformação e nos usos da energia é a maneira mais barata e rápida de aumentar a disponibilidade de energia. Tem a vantagem de gerar empregos diversificados e difundir a tecnologia mais moderna em vários setores, além de contribuir para evitar a emissão de gases do efeito estufa. Poderia ser conjugada com uma política industrial incentivando a produção de equipamentos mais eficientes. A Eletrobrás tem experiência em incentivar a eficiência no consumo de energia através do PROCEL. Estas medidas não têm contra indicação e podem ter efeito no curto prazo.

*Luiz Pinguelli Rosa – Diretor da COPPE e autor do livro Tecnociências e Humanidades

Artigo publicado na Folha de S.Paulo, no caderno Opinião, em 26/01/08, conforme conteúdo do link abaixo:
Eficiência e Racionalização Versus Racionamento