Coppe UFRJ 50

A extração da energia das ondas do mar e sua conversão em eletricidade vem sendo considerada como mais uma importante alternativa de energia renovável, tendo tomado impulso na Europa a partir da década de setenta com a crise do petróleo. A partir daí tornou-se objeto de pesquisas em vários países do mundo, tais como Estados Unidos, Canadá, Irlanda, Noruega, Suécia, Dinamarca, Reino Unido, Holanda, Espanha, Portugal, Grécia, Índia, China, Coréia, Japão, Austrália e Nova Zelândia. Atualmente, alguns destes países já possuem instalações no mar em demonstração comercial, como a Holanda (projeto AWS, 2MW potência), Portugal (projeto OWC, 400 kW potência) e Reino Unido (projeto Limpet, 500 kW potência). A Dinamarca instalou recentemente no mar o projeto WAVE DRAGON com 4 MW de potência.

Estudos desenvolvidos no Reino Unido sobre o potencial energético disponível nos oceanos, indicam valores da ordem de 1 TW, o que significa a possibilidade suprir toda a demanda energética do planeta. Embora o aproveitamento de toda a energia disponível nos oceanos é praticamente impossível, a conversão em eletricidade de uma pequena fração deste enorme potencial energético pode ter grande significado para os países que dominarem esta tecnologia.

No caso do Brasil, embora as alturas de onda típicas do nosso litoral não apresentem valores energéticos dos mais elevados, sua regularidade e a pouca ocorrência de fenômenos ambientais com capacidade de destruição dos equipamentos de conversão, indicam a possibilidade de um aproveitamento economicamente viável, dependendo da tecnologia empregada.

Desde 2001, a COPPE/UFRJ tem realizado atividades de pesquisa visando o aproveitamento das ondas do mar para a geração de eletricidade. A partir da experiência acumulada no desenvolvimento de tecnologia para a produção de petróleo em grandes profundidades, o Laboratório de Tecnologia Submarina (www.lts.coppe.ufrj.br) tem avançado numa concepção de conversor de energia das ondas que utiliza o conceito da acumulação de água em câmaras hiperbáricas, a partir das quais jatos d´água sob pressão e vazão controladas movimentam turbinas convencionais para a geração de eletricidade. No estágio atual de desenvolvimento, testes experimentais tem sido realizados no Laboratório de Tecnologia Oceânica (www.laboceano.coppe.ufrj.br), o qual possui uma das mais modernas facilidades para simulação do ambiente marinho, em especial seu sofisticado sistema de geração de ondas, que possibilita a simulação para as condições da costa brasileira. Até o final deste ano o sistema piloto deve entrar em operação.

O projeto de pesquisa sobre a Usina de Ondas tem sido apoiado pelo CNPq e pela ELETROBRAS. No início de 2004 foi assinado um Termo de Cooperação entre COPPE, ELETROBRAS e Governo do Estado do Ceará, visando a instalação do primeiro protótipo na costa do Ceará. O local escolhido é o Porto do Pecém, situado a 60 Km ao norte de Fortaleza. A instalação da primeira célula deste protótipo está prevista para 2005, a partir da qual estudos de monitoração e conseqüente otimização do dispositivo serão realizados. A capacidade desejada para a usina protótipo é obtida a partir da instalação seriada das células, tendo sido estimada para esta usina experimental uma potência de 500kW.

Estudos focados na viabilidade econômica e questões ambientais são animadores. A tecnologia em desenvolvimento proporciona custos de geração próximos das hidrelétricas, sem impactos ambientais relevantes. Outra qualidade importante é o total domínio das tecnologias envolvidas, possibilitando a fabricação no país de todos os componentes.

*Professor do Programa de Engenharia Oceânica da COPPE e Coordenador do Laboratório de Tecnologia Submarina (LTS).