/Advertência ao Presidente Eleito

Data: 
08/01/2019
Autor: 
Luiz Pinguelli Rosa

A indicação do futuro ministro do meio ambiente Ricardo Salles agradou o agronegócio e deixou preocupadas as ONGs ambientalistas. Foi objeto de críticas durante a 24ª Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU (COP24), realizada em dezembro, na Polônia, a decisão do presidente eleito Jair Bolsonaro que levou o governo Temer a cancelar a realização no Brasil da Conferência do Clima da ONU em 2019 (COP 25). O Brasil vinha mantendo uma atitude pró-ativa nesta área desde a Rio 92, ganhando forte prestígio internacional.
 

O Fórum Brasileiro de Mudanças do Clima (FBMC), criado no governo Fernando Henrique, era presidido pelo próprio presidente da República. De algumas de suas reuniões participaram os presidentes Fernando Henrique, Lula e Dilma e jamais o Temer. O FBMC teve influência importante na política climática brasileira, contando com a participação dos ministros do Meio Ambiente Marina Silva, Carlos Minc e Izabella Teixeira.  Como secretário-executivo do Fórum, participei de reuniões realizadas especialmente para a definição da posição do Brasil na Conferência do Clima de 2009, em Copenhague. O então presidente Lula fez uma intervenção de grande impacto no evento, anunciando que o país assumiria o compromisso de reduzir suas emissões de gases do efeito estufa projetadas para 2020. O Brasil teve participação efetiva, mesmo quando o Anexo I da Convenção do Clima listava apenas os países desenvolvidos, pois tinham maior contribuição histórica para o aquecimento global da Terra. por terem maior contribuição histórica para o aquecimento global. Mas agora todos os países devem realizar as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC).
 

Pelo Acordo de Paris de 2015, o Brasil se comprometeu a reduzir em 2025 suas emissões em 37% abaixo dos níveis de 2005 e em 47% em 2030. Mas seguindo a linha equivocada de Donald Trump, o presidente Bolsonaro declarou a intenção de retirar o Brasil do Acordo de Paris, desconsiderando os sucessivos relatórios do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), que reúne cientistas do mundo inteiro, os quais apontam a forte correlação entre o aumento da temperatura global e o aumento das emissões de gases que se acumulam na atmosfera, com destaque para o dióxido de carbono (CO2), produzido pela combustão, principalmente do carvão, dos derivados do petróleo e do gás natural. 
 

É fato que as geleiras permanentes estão sendo reduzidas. No intuito de minimizar mudanças climáticas drásticas e suas graves consequências, estabeleceu-se em Paris um teto de 1,5º a 2ºC para o aumento da temperatura global.  A principal fonte de emissões brasileiras era o desmatamento que foi reduzido nos últimos dez anos até 2017, mas aumentou no último ano. São preocupantes algumas declarações divulgadas pela mídia atribuídas ao presidente eleito Jair Bolsonaro e a pessoas ligadas a ele. Entre elas, a que diz respeito à agenda modernizadora mundial do Século XXI. Seu ministro de relações exteriores acusa a mudança do clima de ser uma conspiração esquerdista. Lembra uma acusação do tempo da ditadura militar de que os críticos ao Acordo Nuclear do Brasil com a Alemanha, entre os quais me incluía juntamente com José Goldemberg e Rogério Cerqueira Leite, participavam de uma conspiração judaico-comunista.
  

*Luiz Pinguelli Rosa
Professor de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ, ex-secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças do Clima (2004-2015); ex-“Lead Author” do IPCC.