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/Amazônia: cenário com mais emprego e renda preservaria 81 milhões de hectares de floresta

Pesquisadores da Coppe/UFRJ participaram do estudo divulgado nesta terça-feira, 20 de junho, pelo World Resources Institute (WRI) Brasil. O trabalho resultou na elaboração de um inédito modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia Legal, chamado Nova Economia da Amazônia (NEA), que em comparação com o cenário de referência (manutenção das políticas atuais), resultaria em um acréscimo de R$ 40 bilhões ao PIB anual, 312 mil empregos a mais na região, ampliação de 19% no estoque de carbono amazônico, uma redução de 94% nas emissões de gases de efeito estufa e 81 milhões de hectares de florestas a mais do que o previsto para 2050.


Combinando dados e modelos econômicos, o relatório mostra que, com desmatamento zero, restauração de florestas, agropecuária e mineração de baixo carbono e matriz energética mais limpa, a Amazônia Legal registraria um crescimento econômico maior, mais qualificado e mais inclusivo até 2050 – impulsionando a descarbonização de toda a economia brasileira. Na avaliação dos pesquisadores, a Nova Economia da Amazônia pode ser a grande catalisadora da descarbonização de toda economia brasileira e a maior oportunidade de desenvolvimento econômico e social da história contemporânea do país.


No total, dezoito cientistas que atuam ou atuaram no Programa de Planejamento Energético (PPE) da Coppe participaram do projeto: os professores Alexandre Szklo, Andre Lucena, David Castelo Branco, Joana Portugal Pereira, Pedro Rochedo e Roberto Schaeffer; os pesquisadores Amanda Vinhoza, Ana Carolina Fiorini, Camila Ludovique, Huang Ken Wei, Leticia Magalar, Leticia Rodrigues Soares, Lucas Carvalho, Luiz Bernardo Baptista, Gerd Angelkorte e Mariana Império. Além dos pesquisadores Mariana Padilha e Pedro Filipe Rampini, ex-alunos do PPE.


De acordo com Ana Carolina Fiorini, os pesquisadores da Coppe colaboraram nos capítulos de modelagem integrada e infraestrutura sustentável. A modelagem foi rodada no Blues (Brazil Land Use and Energy Systems), um modelo de avaliação integrada (IAM), desenvolvido no Cenergia, laboratório vinculado ao PPE.


“Nós precisamos qualificar a infraestrutura da região para garantir o acesso à energia elétrica para cerca de um milhão de pessoas. Isso é um desafio posto à necessidade concomitante de reduzir as emissões da região. Para isso, será necessário o investimento em microrredes (energia elétrica descentralizada), gerando energia a partir de fontes disponíveis localmente, com destaque para a geração com sistemas fotovoltaicos, tanto flutuantes em lagos e reservatórios como sobre pastagens degradadas, e com aproveitamento de resíduos dos produtos da nova economia”, destaca a pesquisadora pós-doc da Coppe.


Utilizando-se Modelos de Equilíbrio Geral e de Otimização Dinâmica (como o Blues), a equipe multidisciplinar e pluriinstitucional capitaneada pelo WRI Brasil projetou quatro diferentes cenários para a economia da Amazônia Legal em 2050, combinando duas restrições à alocação dos fatores de produção e escolhas tecnológicas: controle de emissões totais e controle de desmatamentos. No cenário Referencial (REF) nenhuma restrição foi estabelecida. No cenário de Sustentação Tecnológica (STE) não se restringiu o desmatamento, mas se impôs a condição de que as emissões totais até 2050 não poderiam ultrapassar o limite estimado de 7,7 GtCO2 para cumprimento do cenário de 1,5°C do Acordo de Paris, forçando a otimização de tecnologias energéticas. No cenário de Sustentação Florestal (SFL) fez-se o inverso, restringindo o desmatamento a zero, mas sem imposição de limites a quaisquer outras fontes de emissão da economia, forçando a otimização do uso do solo. Finalmente, no cenário da Nova Economia da Amazônia (NEA) foram impostas as duas restrições, combinando otimização do uso do solo e da matriz energética para atingir a meta de manter as emissões acumuladas líquidas do Brasil, entre 2020 e 2050, em 7,7 GtCO2.


“A nossa conclusão é que se mantivermos as atuais taxas de desmatamento o modelo Blues não acha soluções tecnológicas (o cenário STE) para restringir as emissões brasileiras de forma a contribuir com a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento em 1,5° até o final do século. Os resultados ressaltam a importância da conservação da Amazônia para o Brasil contribuir com um mundo que limite a aquecimento, e a necessidade de ir além, reflorestando grandes áreas degradadas e descarbonizando as atividades locais”, acrescenta Ana Carolina.


Segundo os autores do relatório, os investimentos para financiar a NEA foram estimados em 1,8% do PIB nacional ao ano, contra 1% ao ano no cenário referencial. Dos R$ 2,56 trilhões adicionais exigidos para essa mudança estrutural, R$ 442 bilhões seriam destinados à agricultura e pecuária de baixa emissão de carbono, R$ 217 bilhões à bioeconomia e restauração, R$ 410 bilhões à matriz energética e outros R$ 1,49 trilhões à infraestrutura. Os investimentos adicionais para a transição não seriam aplicados somente na Amazônia Legal, devido aos fluxos financeiros, informacionais e físicos entre a região e o restante do Brasil


De acordo com a publicação, a Amazônia é o maior estoque tropical de carbono do mundo, e armazena 120 gigatoneladas de carbono acima do solo, o equivalente a doze vezes as emissões anuais resultantes das atividades econômicas globais. A Amazônia Legal também é responsável por reciclar entre 6,3 e 7,4 trilhões de metros cúbicos de água por ano através dos chamados "rios voadores", que irrigam o centro-sul do Brasil, sendo esse o maior serviço climático prestado ao agronegócio. O estudo conclui que manter a floresta em pé é uma oportunidade de desenvolvimento econômico e social, impulsionando a descarbonização de toda economia brasileira.


Ampla parceria


O estudo Nova Economia da Amazônia (NEA-BR) foi liderado pelo WRI Brasil e The New Climate Economy e realizado em parceria com mais de 75 pesquisadores de várias regiões do país e organizações, entre elas a Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), Uma Concertação pela Amazônia, Center for Climate Crime Analysis (CCCA), e a Associação Contas Abertas, além da Coppe.


A pesquisa foi realizada com apoio financeiro do Instituto Clima e Sociedade (iCS), Ministério das Relações Exteriores da Dinamarca, Ministério Federal do Meio Ambiente, Proteção da Natureza, Segurança Nuclear e Proteção do Consumidor da Alemanha (BMU), Instituto Arapyaú, Good Energies Foundation e Climate and Land Use Alliance (CLUA).

  • Publicado em - 21/06/2023