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/Estudo revela efeitos das chuvas na poluição dos rios

“Quando a cidade toma uma ducha, o que você faz com a água suja?” A pergunta irônica feita pelo especialista americano em poluição urbana, J. A. Lager, inspirou Jorge Henrique Prodanoff, então doutorando do Programa de Engenharia Civil da COPPE, a se debruçar sobre um tema ainda pouco tratado no país: o impacto da poluição urbana sobre os corpos d’água após fortes chuvas. Orientada pelo professor Flávio Borba Mascarenhas, a tese de doutorado, intitulada “Avaliação da Poluição Difusa Gerada por Enxurradas em Meio Urbano”, recebeu este mês o Prêmio CAPES de tese na área de Engenharia I.


O estudo revelou que somente o tratamento dos esgotos doméstico e industrial não resultará na despoluição das áreas contaminadas. Mais do que a quantidade registrada de poluentes, o pesquisador chama a atenção para o caráter crônico do problema. “A estação de tratamento dá conta somente de uma parte da poluição, mas se não forem tomadas medidas adequadas de limpeza, todo o lixo produzido na cidade voltará para os corpos d’água”, alerta Jorge Henrique,

O pesquisador fez uma avaliação das cargas e das concentrações de poluentes gerados durante uma enxurrada para calcular o impacto ambiental nos rios e lagoas “Toda poluição proveniente da natureza ou gerada pelas atividades humanas –como folhas, fezes de animais, resíduos sólidos, poluição atmosférica etc. – se encontra espalhada pela cidade e depois de uma cheia acaba poluindo rios e lagoas”, explica Jorge Henrique, que durante um ano estudou a poluição provocada por enxurradas em três rios do estado do Rio de Janeiro: o Guandu, em Queimados, o Sarapuí, em Belford Roxo, ambos na Baixada Fluminense, e o Carioca, cuja nascente localiza-se no Maciço da Tijuca.

Qualidade da água de bacia após enxurrada é semelhante a esgoto sem tratamento


Para o professor Flávio Mascarenhas, orientador da tese, a qualidade da água dos rios já é muito ruim e a situação é agravada depois de uma enxurrada. “Para se ter uma idéia, o impacto da carga de lavagem, como é chamada a primeira meia polegada de chuva, sobre a bacia urbana tem qualidade comparável ao esgoto primário, senão for pior”, explica Mascarenhas.

O pesquisador constatou que após uma série de enxurradas, o rio Guandu, que abastece a cidade do Rio de Janeiro e deságua na Baía de Guanabara, recebe em média o equivalente a 25 kg de fósforo, 185 kg de nitrogênio e 21 kg de zinco. Esse resultado foi obtido por Jorge Henrique após avaliar uma faixa de 16 km do rio ao longo da Rodovia Presidente Dutra, em Queimados. Situação tão crítica de deposição de poluentes também foi registrada no rio Sarapuí, que recebe cerca de 4 mil toneladas de sedimentos após uma cheia.

Rio Carioca: nascentes limpas e foz poluída


O Carioca, cuja história confunde-se com o desenvolvimento do Rio de Janeiro, é um caso emblemático. O rio, que serviu de ponto de partida para o surgimento dos primeiros bairros da cidade, foi batizado por volta de 1503, quando em um de seus braços próximo ao Morro da Viúva os portugueses edificaram uma casa de feitoria, que foi então apelidada pelos índios tamoios de Cari-Óca, cuja tradução é casa de branco.

Hoje, a bacia do rio Carioca é ocupada de forma heterogênea: nasce com boa qualidade e adquire ao longo de seu percurso cargas poluidoras que o transformam em um rio de cor escura e odor desagradável. Próxima a sua nascente, há áreas verdes, como a Floresta da Tijuca, mas até chegar a sua foz, o rio cruza com áreas mais urbanizadas da cidade recebendo esgotos, principalmente nos bairros de Santa Tereza e Cosme Velho, com predominância de casas, favelas e vias expressas. No Largo do Boticário, em Laranjeiras, onde o rio Carioca passa a céu aberto, é possível constatar a mudança de qualidade da água, que já apresenta cor turva e mau cheiro. “A estação de tratamento dá conta somente de uma pequena parcela da poluição. O resto é despejado na Baía de Guanabara, cujas águas têm pouca capacidade de renovação. Com a permanência desse problema, qualquer programa de despoluição ficaria prejudicado”, afirma Jorge. Na opinião do pesquisador, a razão para a pouca atenção dada ao assunto é que “enquanto as cidades não solucionam seus problemas mais urgentes, como saneamento básico, a poluição urbana fica em segundo plano”, explica.

Depois de avaliar o impacto da poluição sobre rios e lagoas, o estudo recomenda medidas de controle estruturais e não estruturais para a gestão integrada dos recursos hídricos. Além de educação ambiental e limpeza adequada, o pesquisador propõe alguns dispositivos de controle de poluição, como reservatórios de detenção, reservatório de controle de cheias, que ao mesmo que retém a água decanta os poluentes; trincheiras de infiltração, onde a água é absorvida por um solo de brita que filtra as partículas poluentes; e células de bio-retenção, que contém vegetação capaz capturar e depurar os poluentes.

  • Publicado em - 24/11/2006