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/Aquilino Martinez: da base à primeira divisão

Entender os mistérios do electromagnetismo, da mecânica newtoniana, das reações nucleares e da gênese do universo. Essa curiosidade fez com que, desde criança, o Prof. Aquilino Senra Martinez, do Programa de Engenharia Nuclear da COPPE, escolhesse dedicar-se às ciências exatas. "No científico fiquei dividido entre física, química e matemática", conta Aquilino. Quando finalmente decidiu-se pela física, já pensava em desenvolver um trabalho eminentemente teórico, como faz até hoje. "Sempre enfocando os fundamentos, como as coisas funcionam. Acho a parte experimental atraente também, mas você depende demais dos meios materiais para poder desenvolvê-la", explica.

Em 1975, preparando-se para começar o curso de mestrado no Instituto de Física da UFRJ, Aquilino descobriu um curso preparatório na COPPE. "Como o curso no Instituto só começava em março, eu decidi fazer o daqui, sem intenção de ficar"- explica. No decorrer do curso terminou descobrindo que a engenharia nuclear se aproximava muito da física e decidiu ficar e fazer o mestrado na COPPE. Acabou participando da implantação do Programa de Engenharia Nuclear, onde terminou por fazer o doutorado também, especializando-se em física de reatores (área que estuda a interação entre o neutron e a matéria no reator nuclear). Em 1979 passou no concurso e tornou-se professor da COPPE.

"Comecei nas divisões de base até me transformar em jogador do time titular de profissionais. Sou cria da casa", brinca Aquilino, um admirador confesso. "Falar da COPPE é como falar do meu filho ou do meu time de futebol, é minha segunda família". Este é mesmo um assunto sério para este botafoguense que orgulha-se e defende de maneira intransigente a instituição. "É um modelo que deu certo na área de ciência e tecnologia. Quando alguém a critica faço questão de revidar", avisa.

Casado há vinte anos com a fonoaudióloga Dianir, tem um filho de 18 anos. "Rafael vai prestar vestibular ano que vem para odontologia", conta orgulhoso. Aquilino reconhece que contou muito com o apoio da esposa nos dias em que a COPPE terminava ocupando a maior parte de seu tempo. "Ela é muito compreensiva", elogia.

Mas como nem tudo na vida pode ser trabalho, o lazer também tem sua hora reservada na agenda do pesquisador. Jogar voley com um grupo de amigos na praia ou organizar festivais gastronômicos com os vizinhos são dois prazeres dos quais não abre mão. "O cardápio é internacional variado", conta o professor.

A leitura é um dos seus hobbies preferidos.Os temas mais apreciados são filosofia e história contemporânea "Dos livros que li recentemente gostei muito de 'O Mundo de Sofia' e de 'As Veias Abertas da América Latina",indica.

Mas atualmente o professor anda muito preocupado com a situação do país e da universidade. "A atuação da universidade é muito importante para a sociedade, mas sem investimentos básicos não vamos conseguir manter esse trabalho. O modelo de privatização das instituições de pesquisa é uma falácia. Nos países desenvolvidos o governo sempre coloca recursos em pesquisas a fundo perdido. Com esse atual modelo de importação de tecnologia corremos o risco de perder o trem da história."- desabafa.

Mas nem mesmo toda a crise conseguiu afastar este pesquisador por vocação da universidade. "Rejeitei vários convites. A COPPE é o meu vício. Em nenhum outro lugar eu teria tanto prazer em fazer o que faço", confessa francamente.

  • Publicado em - 06/10/1998