Lista de Notícias

/China e Brasil discutem cooperação em energia eólica e biodiesel

Energia eólica e biodiesel serão as primeiras áreas de cooperação entre a Coppe e a Universidade de Tsinghua, em Pequim, parceiras no Centro China-Brasil de Mudança Climática e Tecnologias Inovadoras para Energia. Em seminário realizado na Coppe, dias 27 e 28 de julho, representantes das duas instituições anunciaram a criação de uma unidade para produção de geradores eólicos, com foco no regime de ventos do Brasil, e a implementação de uma usina de produção de biodiesel utilizando enzimas, a ser instalada na Coppe. O seminário reuniu especialistas e representantes de governo dos dois países para discutir oportunidades de cooperação em energias renováveis.

Com uma matriz energética predominantemente de carvão, com 77,3%, a China vem buscando diversificar sua matriz, investindo em energias renováveis. O país, que tem a maior capacidade instalada de energia eólica do mundo, com 42 GW, estima que até 2020 chegue a cerca de 200 GW de capacidade.

Na busca por fontes renováveis, o Centro China-Brasil possui um projeto em andamento que prevê um novo processo de utilização de enzimas na produção de biodiesel. A tecnologia será testada em usina piloto, instalada no Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (IVIG) da Coppe, no Rio de Janeiro. Os pesquisadores avaliarão os custos de produção de biodiesel com o uso dessa tecnologia, com base na realidade brasileira, que tem como uma das vantagens o melhor aproveitamento do óleo e seus resíduos. Como parte do projeto, dois pesquisadores da Coppe, Luiz Guilherme Marques e Rejane Rocha, permanecerão 60 dias em Pequim para desenvolver estudos de viabilidade.

Cooperação tecnológica e negócios


Segundo o diretor de Tecnologia e Inovação da Coppe, Segen Estefen, o Brasil pode dividir com os chineses a propriedade de alguns desenvolvimentos tecnológicos. “Buscamos contribuir para o avanço dessas tecnologias, tornando-as mais eficientes para as condições do Brasil”, explica Segen. Como parte dessa parceria, a Coppe deve assinar em breve acordo com uma grande empresa chinesa fabricante de geradores eólicos.

Um dos diretores do Centro China-Brasil, professor He Jiankun, da Universidade de Tsinghua, defendeu a inclusão de empresas dos dois países nesta cooperação voltada para o desenvolvimento de inovações tecnológicas. “China e Brasil apresentam aspectos complementares e estão fazendo esforços para o desenvolvimento sustentável e uso de energias renováveis capaz de sustentar o crescimento. Para isso, necessitaremos de uma plataforma tecnológica forte”, avalia.

O diretor adjunto do Ministério de Ciência e Tecnologia da China, Sun Chengyong, citou a parceria entre os dois países na área espacial, firmado em 1988, como modelo a ser seguido. “Temos muitos anos de cooperação tecnológica, podemos aprofundar e inovar nossas formas de colaboração, com o incentivo às empresas e formação qualificada de nossos profissionais, tendo o desenvolvimento tecnológico como pilar”.


“O enfrentamento das mudanças climáticas deve levar em conta as populações mais pobres dos dois países”, enfatizou o diretor da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa, que propôs atividades conjuntas com diferentes setores. “São os mais pobre que sofrerão mais severamente com os efeitos de mudança do clima. Pretendemos articular, junto ao IPCC, as ações do Centro China-Brasil para propor medidas de mitigação”, afirmou. O diretor da Coppe também revelou a intenção dos integrantes do Centro China-Brasil de ampliar suas atividades aos países do Grupo BASIC, que além de Brasil e China, inclui África do Sul e Índia.

Energias renováveis no Brasil e na China


Para o presidente da Empresa de Planejamento Energético (EPE) é possível para o Brasil crescer sem comprometer a matriz energética. “O Brasil utiliza apenas 1/3 de seu potencial hidrelétrico. Desses 2/3 a serem explorados, 60% estão na Amazônia. É possível aproveitar esse potencial, preservando a floresta. Para isso, será necessário ceder dos dois lados, abrindo mão de parte do potencial hidrelétrico para preservar o ambiente”, avalia. Segundo Tolmasquim o país também poderá expandir a produção de etanol sem avançar na fronteira agrícola. “Hoje se aproveita 1/3 do bagaço de cana para geração elétrica e espera-se aproveitar o outro 1/3 de palha para produção de energia”.

Crescer de forma sustentável é a única saída apontada também pela professora da Coppe e secretária de Economia Verde do Estado do Rio, Suzana Kahn Ribeiro. “Para os países emergentes, o Brasil em especial, esse é o único caminho capaz de manter os níveis de crescimento. Desenvolver-se de forma descontrolada é matar nossa ‘galinha dos ovos de ouro’. Temos uma longa estrada pela frente”.

O Diretor Adjunto da Comissão Nacional de Consulta em Energia da China, professor Zhou Dadi, falou sobre o panorama da energia renovável em seu país. Zhou Dadi também é pesquisador do Instituto de Pesquisa em Energia da China, que subsidia o governo chinês para a tomada de decisão no setor de energia. Maior exportadora de produtos manufaturados do mundo, a China acrescenta por ano 91 GW a sua capacidade instalada de energia. Como bem ressaltou o diretor da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa, o setor de energia chinês cresce “quase um Brasil” por ano.


“A China cresce a níveis muito altos, e as energias renováveis ainda representam uma proporção pequena. Como maior produtora de manufaturados do mundo, requeremos grande quantidade de insumo. A China é responsável por 47% da produção mundial de aço, com 568 milhões de toneladas. Produzimos 548 milhões de celulares, 50% da produção mundial. Fabricamos 18 milhões de carros no ano passado. Ao todos são 220 milhões de carros circulando no país. Tudo isso representa um alto consumo de energia”.

A China está avançando no desenvolvimento tecnológico e produção de equipamentos na área de energia eólica e solar. A China é a maior produtora de equipamentos de energia solar do mundo e tem a maior capacidade instalada de energia eólica do mundo. “Entre 2006 e 2009, o país dobrou ano a ano seu parque eólico, aumentando 17,5 GW só nesse período”. Também no setor nuclear a previsão é de crescimento. “Até 2020, o setor nuclear deve crescer de 60 a 70 GW. O acidente no Japão impactou a China, mas não deixaremos de investir no setor. Vamos reforçar os mecanismos de segurança”.

Segundo Zhou Dadi, a conquista de uma matriz energética mais limpa exigirá novas estratégicas tecnológicas. “Até 2020, esperamos que a energia renovável ocupe 15% da nossa matriz, mas há ainda muitos desafios, principalmente de custos. Precisaremos avançar”.

Convenção do clima


No evento foi discutida também a posição do Brasil e da China na Conferência das Nações Unidas em Desenvolvimento Sustentável, que será realizada, em junho de 2012, no Rio de Janeiro – e na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 17), que acontecerá em Durban, na África do Sul, em dezembro deste ano. Segundo o diretor do Departamento do Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores (MRE), embaixador Luiz Figueiredo Machado, é preciso discutir os novos termos do Protocolo de Quioto, que expira em 2012. “Para conter o aumento da temperatura, é preciso implantar metas obrigatórias. Com o sistema de cada um faz o que quer e quando quer isso não será possível”. Essa posição é compartilhada pela professora do Instituto de Novas Tecnologias em Energia da Universidade de Tsinghua, Liu Bin. “O sucesso da reunião de Durban vai depender do resultado das negociações para a continuidade do Protocolo de Quioto.”

  • Publicado em - 03/08/2011