/O alvorecer da energia do hidrogênio

Paulo Emílio de Miranda
Professor do Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Coppe/UFRJ e presidente da Associação Brasileira do Hidrogênio (ABH2)

Em plena época de enfrentamento sindical e patronal com o governo brasileiro por parte de rodoviários que transportam combustíveis, com força para paralisar atividades de toda uma sociedade, o mundo experimenta uma importante transição energética. Vivemos hoje o alvorecer da energia do hidrogênio, tema que será discutido na Conferência Mundial de Energia do Hidrogênio, a WHEC2018, que ocorrerá pela primeira vez no Brasil, no Rio de Janeiro, de 17 a 22 de junho.
 

Esses dois fatos oferecem oportunidade para que sejam explorados as limitações e prejuízos do uso indiscriminado de combustíveis fósseis e os benefícios de o país adentrar na transição energética que marcará o século 21.
 

A alimentação de máquinas térmicas com diesel, gasolina, gás natural ou querosene produz poluentes já bem conhecidos e outros, muito danosos, sobre os quais pouco se fala. Eles impõem custos adicionais àquele do combustível em si, externos à sua composição de preços —por isso, chamados de externalidades.
 

Por essa razão os combustíveis convencionais são ditos mais baratos. Os hidrocarbonetos não reagidos, particulados, metais pesados, além de vírus, bactérias e outros contaminantes a eles agregados, são responsáveis por uma parcela significativa de doenças parcial ou totalmente letais em grandes concentrações urbanas, principalmente de caráter respiratório ou cardíaco, que nos vitimam contínua e progressivamente. A chuva ácida daí resultante também ataca monumentos, viadutos, prédios, além da fauna e da flora. Nada disso é pago pela cadeia de uso de combustíveis poluentes.
 

Mas há alternativas. O Brasil já é muito bem posicionado no uso de energias renováveis, com mais de 43% da sua matriz energética, enquanto a média mundial é de 13,5%. Isso graças à energia elétrica majoritariamente de fonte hidráulica e ao crescente uso de outras renováveis, tais como as energias eólica e solar, e ainda pelo uso de derivados da cana de açúcar em larga escala.
 

Isso se constitui num fator facilitador para o Brasil adentrar a energia do hidrogênio, que trata do uso do hidrogênio e de compostos que o contêm para produzir e suprir todos os usos energéticos práticos com alta eficiência e espetaculares benefícios sociais e ambientais.
 

O hidrogênio pode ser produzido pela decomposição eletrolítica da água, pela gaseificação ou biodigestão de virtualmente quaisquer biomassas, pelo tratamento termoquímico de biogases e até daqueles de origem fóssil.
 

Curiosa e espantosa é a recente descoberta de que há poços de hidrogênio natural no Brasil, por enquanto inexplorados. Quando o hidrogênio é utilizado no mais eficiente conversor de energia conhecido, a pilha a combustível, produz-se água. Precocemente, Julio Verne (1828-1905) previu, em 1874, em "A Ilha Misteriosa", que o hidrogênio seria o “carvão do futuro”! Você nos apoia nessa admirável transição energética?

*Publicado originalmente na "Folha de S. Paulo", no dia 14 de junho de 2018.

Resumo Descrição: 
Em plena época de enfrentamento sindical e patronal com o governo brasileiro por parte de rodoviários que transportam combustíveis, com força para paralisar atividades de toda uma sociedade, o mundo experimenta uma importante transição energética. Vivemos hoje o alvorecer da energia do hidrogênio, tema que será discutido na Conferência Mundial de Energia do Hidrogênio, a WHEC2018, que ocorrerá pela primeira vez no Brasil, no Rio de Janeiro, de 17 a 22 de junho. Esses dois fatos oferecem oportunidade para que sejam explorados as limitações e prejuízos do uso indiscriminado de combustíveis fósseis e os benefícios de o país adentrar na transição energética que marcará o século 21.